Envolvidos pela névoa
Que elevava a desconfiança,
Um turbilhão de animosidades
Pairou sobre nós.
O ato da separação é doloroso e cruel,
É feito açoite que decreta a saudade,
Interceptando o momento,
Alterando nosso destino.
A cena do adeus foi dolorosa.
Quando dei por mim que seria o fim,
Quase enlouqueci, me descabelei,
Pensei em suicídio.
A princípio, achei que se tratava
De um simples momento de atração,
Estava enganada, fora traição.
Acrescida num acumulo de sofrimentos,
Parecia que minha vida
Perdera o rumo, não tinha prumo.
Nunca mais o sentimento me sorriu.
Meus dias tornaram-se maçantes,
Desterrados e nebulosos.
Quando o véu negro da noite
Envolvia o amarrotado cobertor,
Trazia consigo o desamor.
Enquanto a apatia me sangrava na dor,
O orgulho me castigava com seu rancor.
A manhã cinzenta assustava.
Sob o desbotado céu,
Um casal de pombos disformes arrulhava,
Fiquei enlouquecida,
Manifestei meu lado assassina,
Apontei um estilingue munido com pedra,
Voaram a esmo, amedrontados.
Fazia dia, mas uma aura cinzenta
Parecia pairar apenas sobre mim.
Vi uma alma penada compadecer,
Ignorei o espectro,
Estava cansada de assombrações.
Num soluço, o choro da perda invadiu-me,
Perfazendo um cenário caótico,
Sombrio e deveras, desolador.
Meu silencioso coração
Resignado pelas intempéries,
Emudeceu, completamente estático.
Pensei no momento final,
Tudo que você me disse foi desalentador,
Mas absorvi a dor e sei
Que as palavras não ficaram em mim.
Houve um tempo
Em que ansiei por tua volta,
O tempo passou,
Mas os pensamentos negativos
Permaneceram sobrepujando
Qualquer vínculo com a racionalidade.
Eu estava possessa com o desmantelo.
Enquanto insana, jamais duvidei de mim.
Agora sei que fora mera ilusão,
Pois o mesmo amor
Não visita duas vezes o mesmo coração.
O falso amor sempre desmorona,
O sentimento tarda,
falha e danifica a razão.
Pensei que viajasse em suas costas,
Mas lá do alto, estava te guiando.
Embora sofrida, não lamento nossa vida,
São percalços da caminhada.
Viver uma vida aprisionada
Equivale a uma sutura imaginária
Num membro inexistente.
Adotei trajes curtos, cabelos longos,
Generosos decotes avolumando os seios,
Batom sedutor e passos delicados.
Dei por frequentar baladas,
as vezes beijos e namoros.
Malho na academia e vivo a vida.
Sou feliz, desencanada e resolvida.
Você decidiu trilhar novos rumos,
E percebeu que as estradas
Eram íngremes e sinuosas.
Hoje abandonado,
Percebeu que não estou a seu lado
Para ampará-lo na queda,
Hoje, arrependido, quer voltar,
Implorando para ser perdoado
Aprendi a ter dignidade,
No viés do seu adeus, não restou saudade,
Agora é tarde para sermos felizes,
Não quero seu amor nem amizade.
Com o tempo o mar ficou revoltoso,
O sentimento naufragou
Frente as tenebrosas ondas.
No barco do amor,
Apenas você ficou à deriva.
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“Escrevo o que sinto mas não vivo o que escrevo”