Paulo Izael
Escrevo o que sinto, mas não vivo o que escrevo.
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Textos

 

Debruçado sobre a mesa,

Sem reações físicas,

Meus olhos vermelhos ardiam, 

O hálito exalava podridão.

 

Entornei um gole de cachaça,

Cuspi catarro ensacado.

Acendi o cigarro paraguaio,

A nicotina rasgou a garganta.

 

Minha existência tenebrosa,

Amores inacabados,

Tudo definhando

Num revés inumano e infindo.

 

Corri o olho no boteco,

Lugar deprimente

Com homens decadentes

E mulheres horríveis

 

Aquilo não me aclarava,

Mas eu não conseguia fugir

Do ambiente dos fracassados,

No fundo, era uma necessidade.

 

Trôpego, cambaleei sem rumo.

Ingeri dezenas de anfetaminas,

Fumei um tufo de cannabis

E acabei aspirando crack.

 

Vi um dragão em chamas,

 Vampiro desdentado,

Jesus Cristo genérico,

E pastor vendendo salvação.

 

A sensação de alegria

Foi bruscamente interrompida

Pela excessiva depressão

Associada a alegria do suicídio.

 

Não conseguia raciocinar,

Minha cabeça implodia,

Fraqueza muscular atordoante.

Nada mais era como antes.

 

Outro cigarro torto no dedo,

Uísque falsificado combinado

Com pimenta Carolina Reaper

Findou numa convulsão.

 

Senti uma fraqueza intensa,

Como um soco no coração.

Meus batimentos inaudíveis,

A visão desfocada, um breu.

 

Dor semelhante a fórceps,

Feito carnegao implodindo,

Tal qual mordida de pitbull

Acometido por raiva incurável

 

Acordei ainda sonolento,

Não recordava de nada.

Os nacos de carnes azuis

Ainda grudadas no corpo.

 

Tossi, arroxeado,

Vi pedaços do pulmão 

Explodirem no ar,

Nacos verdes em putrefação.

 

Estava arruinando o caos,

Tripudiando com o destino

Que acabara de ser modificado,

Vencido por alucinaçoes.

 

Respiração ofegante,

Tateei a face, estava entubado.

Meu corpo estava gelado.

A calota polar descontrolada.

 

Eu falava sem abrir a boca

Ninguém me ouvia.

Tentava me mover

Mas não saia do lugar.

 

Estava encafifado, tremulo.

Homens com aventais brancos

Me encaravam e anotavam.

Fui colocado num armário.

 

Gritei protestando,

Eu estava vivo, apenas imóvel.

Um médico calvo disse:

Autópsia concluída

 

Hermético, fiquei paralisado.

Me colocaram num caixão.

A terra invadiu a cova, e me

Tornei número de estatística.

 

Após 58 horas agonizando,

Vi-me desfazendo,

Consumido por bactérias

Que viviam em minhas vísceras.

 

 

"ESCREVO O QUE SINTO, MAS NÃO VIVO O QUE ESCREVO"

 

www.pauloizael.com

 

 

 

 

Paulo Izael
Enviado por Paulo Izael em 31/08/2023
Alterado em 19/11/2024
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