Paulo Izael
Escrevo o que sinto, mas não vivo o que escrevo.
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Doeu-me lembrar do imbróglio desalentador que permeava nossa relação. Tudo se resumia num pote de mágoa. Não compartilhávamos a mesma visão. Parece que a vesguice do menosprezo se apossou de nós e ruiu o elo. Entre você e eu o beijo esperado da despedida tardou e não aconteceu. O fel que alimentava suas palavras alterou a rota de nosso sentimento. Inconsistente e sempre na defensiva, você dificultou e alterou o curso de nosso amor. Mas o tempo apaga cicatrizes e aviva a mente para novos rumos. Fui despertado com o canto dos pássaros, e aclarei meus sentimentos, o que eu tinha como amor, mostrou-se um fardo esquecido na dormência do passado. Radiante, percorri meu jardim florido. Feliz, um beija-flor abelha me ofertou uma porção de néctar. Os grãos de pólen grudaram em minhas mãos. Bailei feito um redemoinho, E findei polinizando várias flores. As rosas aplaudiram meu gesto. Em genuflexão, agradeci o encantamento.

Ontem, feliz, assenti e abracei meus sentimentos. Foi alentador despertar radiante. Mas uma rusga do passado as vezes se manifesta e ainda me doí, mas é assim que a saudade quer me ver. Às vezes me atropelo ao sentir o cheiro da relva espumando ao vento. Quando olho para trás meus pecados ainda me seguem. Em algum lugar do meu coração o amor foi esquecido e brotou o amargor.

Hoje o dia amanheceu sem raios solares, em perfeito estado de putrefação. Vi-me em desarmonia entre alma e matéria. Parecia que meus movimentos estavam lentos ou o plano daquele tempo estava apressado para me descartar feito simbiose dicotômica. Algo estranho espreitava no ar fétido, aquilo estava me acumulando por intermitentes inquietações. Pelejei para entender os sinais, não conseguindo, implodi abraçado a meu tédio.

Para despistar meus erros ou camuflar minhas verdades, fantasiei aquilo que você queria ver, minha destruição.  Findei por me embolar nos pensamentos, vi a beleza, mas o ódio suplantava a natureza e chamava de volta a tristeza. Num sopro de saudade, desejei que a paz nunca estivesse conosco e que jamais seríamos felizes. Para evitar o teu olhar, fiz-me recluso e construí meu próprio deserto e tornei-me fragmentado pelas partículas rochosas. Quando vi minha vida murchar, feneci. Finalmente arquejei trôpego. Pensei numa carta de despedida, mas percebi que nada restava para ser lembrado nos cacos de uma vida.

 

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Paulo Izael
Enviado por Paulo Izael em 23/06/2022
Alterado em 11/01/2023
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