Há décadas nossos olhos não se enxergavam.
O passado continuou me remoendo,
O presente me triturando
E o futuro era nebuloso.
Mas numa providencial intervenção
Que vai além de minha imaginação,
Numa noite melancólica
Eis que tudo se transformou.
O vento uivou com violência
E a saudade que machucava
Cresceu em sua insignificância
Mas fora tragada pelo meu descaso.
Quando perdi você,
Zanzei por aí sem entender;
Não era amor nem paixão,
Eu apenas gravitava por um mar de ilusão.
Estava cansado de tentar te entender
E decidi que desta vez iria te esquecer.
A lembrança de tua imagem
Foi se perdendo em algum lugar do passado,
O sentimento feneceu,
Levando consigo meu lamento.
No início da primavera.
Eu vivia sob a névoa da ilusão
E havia criado em minha mente
Uma lembrança fictícia
De um amor que há décadas
Havia se diluído no tempo.
O verão chegou gracioso
O imponente sol beijou meu efusivo coração.
Faíscas de felicidade
Adornaram meu caminho.
Sorri, ao ver minha imagem refletida
No espelho da vida,
Exatamente naquele momento,
Fui despertado pela razão da existência;
Aperreado, cansei de me esconder de mim
E me permiti um duradouro abraço
Me despedindo de amigos imaginários,
Também as rositas murcharam no jardim.
Senti o momento em que
A inércia bateu em retirada.
Aliviado, aspirei a encantatória
Felicidade da vida,
Eu estava radiante por existir.
Numa manhã colorida
Quando os primeiros raios solares
Beijaram minha corada face,
Pude ver claramente
Quando a tristeza me deixou,
Enfezada, se distanciando
E acenando contrariada
Com os dedos datilografando o ar.
O inverno glacial chegou rigoroso
Derrubando minha temperatura.
Ainda pelejei alguns anos
Para me aprumar na estrada sinuosa.
As vezes ainda avisto alguns vultos
Que eram meus antigos demônios.
Há tempos não me recordo de você
E, a cada dia luto para te esquecer.
Aliviado, hoje eu ouço o som do silêncio
Para não bulir com meu coração
Que já sofrera demais por decepções.
No dia seguinte o sol despertou convidativo
E logo surgiu um arco íris majestoso.
Aspirei, o ar de euforia invadiu meu coração.
Finalmente acreditei que
Estava livre das garras da ingratidão.
Paulo Izael
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