Estava com saudades do sofrimento que sempre me acometeu, finalmente hoje a tristeza tomou coragem e veio me visitar. Fazia dia, mas num segundo vi a noite tomar chegada exibindo a gorducha lua acabrunhada. Meu sentimento há muito estava entrevado na ansiedade. A infelicidade sobrevoava meu muquifo onde eu amava ser um eterno eremita e em noites negras eu cantarolava: “Quem quiser ser meu amigo que não me estenda a mão” – inesperadamente avistei uma mosca que voava em círculos, irritando. Como um simples inseto pode causar em mim uma sensação de guerra, estava num grave estágio de desesperação ...eu não suportava observar aquela ameaça; há pouca estava cantando, agora o inimigo espreitava sendo dissimulado. Iniciei uma tremedeira incontida, não poderia baixar a guarda para o inimigo. Munido de um eficiente binóculo, avistei a invasora num novo sobrevoo, tomado por uma repentina ansiedade, pude enxergar o inseto que tencionava me matar. Mirei bem e despejei um jato de cuspi gelatinoso e foi bem na mosca. O inseto caiu esperneando e suplicando por sua vida. Não me apiedei. Busquei no quarto uma minúscula rede fabricada com nylon e prendi-a. no outro quarto achei pequenos alfinetes e crucifiquei o inseto. Rogou por agua e lhe borrifei com pesticida. Mais uma vez olhei a minha volta vendo o sol sucumbir por entre as nuvens negras. Eu estava só, não era sina, não era abandono, era simplesmente minha opção de desprezo por todo e qualquer ser vivo. Estava preparado para investidas e, a todo instante em riste. Há tempos havia autorizado meu coração a alçar voo e me abandonar, também dei liberdade a minha aura para que fosse embora, mas até hoje, ainda que rejeitados teimam em permanecer a meu lado. Não estou desiquilibrado, apenas exerço o direito de defender meu território e a primazia de estar só. Sou feito parafuso sem rosca, não me encaixo. Não vislumbrava nada, apenas havia enojado o ser humano.
"Escrevo o que sinto mas não vivo o que escrevo"
www.pauloizael.com