Era para ser uma vida plena,
Onde o amor arbitraria a felicidade.
Mas fiz as malas.
Eu não suportava minha existência.
Não significava que estava retroagindo,
Tampouco tencionava avançar no tempo,
Apenas queria vivenciar o presente
E tentar me lembrar de mim.
Tremulado, estarreci ao ver-me no espelho,
Tateei meu rosto esmaecido e desbotado
Coberto por pele enrugada,
Não conseguia distinguir minhas feições.
Ao enxergar-me no espelho vi-me horripilante.
A imagem refletia um estranho ofegante.
Não conseguia acreditar
Que um dia tateei aquela massa obesa.
Desfiz as malas, e olhei para o passado cruel,
Reparei a vida com desdenho
E mergulhei na escuridão
Onde o obscuro pressupõe a doce agonia.
Ateei fogo nas malas, minha vida em labaredas.
Meu corpo feito fogueira sorriu em letargia,
Levitei em estado gasoso;
Finalmente eu havia interrompido a vida.
Fui tragado por um uma rajada de vento frio.
Há séculos não esbarro em minh‘alma,
Acho que o universo deletou meu curso.
Minhas partículas diminutas
Planando na imensidão do cosmo,
A esmo, esfarelando sem rumo
Buscando nada, lost em tudo.
De repente surgiu um clarão,
Precedido por um imenso estrondo.
Não havia túnel nem purgatório.
Apalpei-me, senti meu corpo.
Teria eu praticado a ressuscitação?
Em minha doce loucura,
Neguei minha existência três vezes,
Se eu não me permito viver,
Porque o indecoroso juiz do tempo
De maneira abrupta me condena a
Perambular novamente por este curral
Apelidado de terra?
Possesso, vi-me em transformação.
Reticente, conclui pesaroso
Que estava numa maçante reencarnação,
Momento caótico, estadia deprimida,
Um desproposito do criador,
Infelizmente, eu ainda existia em outra vida.
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