NOITES TRAIÇOEIRAS
Naquela noite decadente e solitária,
A música destoava perfazendo uma sinfonia solitária e tétrica.
Eu continuava a zanzar pelas ruas desertas a procura de nada,
Chutando latinhas
E sorvendo o Bourbon falsificado.
Acendi um cigarro,
Atirei o isqueiro num gato medonho.
A escuridão da noite
Era um deleite para meus olhos.
A obesa e decadente lua tentava me clarear
Aumentando a rota de sua órbita.
Ignorei o satélite, e ameacei
Atear fogo em seu gelo.
A vida já havia me castigado
De muitas maneiras,
Engabelando meus sonhos,
Surrupiando ideais,
Enegrecendo o destino e
Substituindo o azul do mar
Por melancólicas noites traiçoeiras.
Novamente a tétrica música
Ferindo meus tímpanos.
Tudo definhava, aquele barulho
Desprovia a vida,
Subtraindo o som e enterrando o ritmo.
No ar pairava um surto melancólico
De som execrável.
Finalmente uma providencial
Rajada de vento frio Me paralisou,
Senti alegria no momento glacial.
A hipotermia fazia
Minha massa raquítica tremer.
Num acesso de espasmos,
Senti a depressão da consciência,
Meus batimentos cessaram
A respiração escasseou.
Eu estava me despedindo
De um mundo solitário.
Amei quando a vida se ausentou,
Senti-me extasiado ao descobrir
Minha mente inabitável,
O corpo desbotado,
Imóvel em estado glacial
E meu enlutado coração
Eternamente mudo, inaudível.
certamente um consolo
para uma estadia deprimente.
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