Nenhum trem me leva até ontem!
Rosa Pena - Escritora, Poeta e Cronista .
Incompreendido pela contínua insanidade,
Pasmei cético diante do raro momento de lucidez
Onde percebi a estagnação da vida.
Tentei andar, mas não consegui sair do lugar,
Ensaiei um sorriso mas prevaleceu o pranto.
Todos os sentimentos foram subtraídos
Pelas inúmeras lacunas que me invadiram.
Eu deveria ter tentador ser,
Ter insistido nos mesmos erros
Mas recuei acometido pela inércia da alma
E permaneci estático olhando estrelas cadentes,
Enquanto o grilo cadeirante brigava com sua miopia.
Olhei para o obesa lua que se esgueirava
E continuei me perguntando quem era eu,
Um anônimo transeunte que não mais se reconhecia
Na própria imagem refletida nos estilhaços do espelho?
Com dezoito anos estava velho demais para recomeçar.
Senti uma lágrima gelatinosa rolar pela face desbotada
E imediatamente fui abraçado pela loucura diária.
Meus sapatos propositadamente se colidiram
Pendi para um lado, capenguei desequilibrado
E pela primeira vez vi-me caindo de mim.
Assisti maravilhado a massa raquítica se desmoronar.
É grandioso assistir o próprio corpo se definhar,
Naquele momento deixei de haver a vida;
Foi inebriante quando o ultimo sopro de luz se esvaiu.
Envolvido por um enraivecido tornado,
Fui elevado ao céu mas não retornei no terceiro dia
Nem permaneci sentado à direito de meu clone.
No fuso horário da existência, não era hora de partir
Mas enojava-me a estadia naquela maçante dimensão,
Eu precisava de movimento, outras vidas me aguardavam.
A fila estava andando, afinal eu era o relógio do tempo
Que adiantava sentindo saudades do amanhã.
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