REENCARNAÇÃO
Num súbito, Caio Silvino despertou amedrontado. Não conseguia lembrar-se de absolutamente nada. O dia amanhecera tácito, enegrecido. Assustadoras nuvens encardidas espreitavam. Pássaros disformes gritavam em desespero. Caio Silvino ganhou a rua, um sentimento abstrato o impelia a caminhar. Algo poderoso o forçava a seguir. Andou apressadamente. O mundo estava inanimado. O sepulcral silêncio imperava, tornando tudo cálido soturno. Continuou a caminhar, agora a passos acelerados; sabia que teria que chegar a algum lugar, onde? Tentou avivar a memória, a mente absorta, estava desprovida de qualquer lembrança. Avistou seu destino, um cemitério! Dominado, pela força que a tudo regia, caminhou até uma lápide. Não sabia o que estava fazendo ali. Tentou se desvencilhar da invisível camisa de força, em vão. O roteiro estava pré-definido com total clareza. Olhou trêmulo para o jazido. Intuitivamente, olhou para a inscrição sobre a lápide gelada, leu: “Aqui Jaz Caio Silvino”. Uma foto amarelada mostrava seu rosto.
- Deus do Céu, estou ficando louco!!! – gritou Caio Silvino.
Não assimilou o fato. Como poderia estar morto, coberto pelo manto negro da senhora da morte, se estava vivo? Tateou o corpo, em busca de algum vestígio que pudesse indicar algum acidente. Sua anatomia estava perfeita. Certamente tratava-se de um pesadelo, não mais que isso! Se estivesse morto não estaria ali contestando o fato. Precisava achar alguém para dialogar.
- Almas não conversam com vivos! – assentiu com positivismo.
Saiu em desabalada carreira, precisava conversar com alguém para dissipar a duvida, ou, despertar do pesadelo que parecia por demais real. Enquanto corria, não avistou nenhuma pessoa pelas ruas desertas. Aquela silenciosidade o deixava perplexo.
- Teria sido eu o único sobrevivente duma explosão nuclear?
Chegou em sua casa. Gritou para todos, não obteve resposta. Olhou em cada dependência da casa sem ninguém encontrar. Foi até seu quarto, examinou as roupas, tudo estava em ordem. Tentou ligar o televisor, não havia energia elétrica. Sua respiração estava ofegante, o corpo suado pelo excessivo esforço; sentiu-se exaurido. Pensou que se dormisse, acordaria do pesadelo e tudo estaria resolvido. Fechou os olhos e mergulhou num sono profundo.
Quando acordou, não conseguiu abrir os olhos. Tentou se mexer, faixas o aprisionavam feito uma camisa de força. Gritou, forçando o pulmão. Sentiu algo de composto plástico ser colocado em sua boca, quase perdera a respiração. Gritou novamente e ouviu uma voz:
- O bebê da mamãe quer trocar de peito, quer?
Outra voz:
- É a cara do papai, que lindo!
=RESPEITE OS DIREITOS AUTORAIS=
"Escrevo o que sinto, mas não vivo o que escrevo"
Paulo Izael
Enviado por Paulo Izael em 12/09/2005
Alterado em 13/02/2007