Paulo Izael
Escrevo o que sinto, mas não vivo o que escrevo.
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                                 MINHA PRÓXIMA VIDA

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             Abri os olhos e acordei sabendo que seria mais um dia chato. Minha cabeça doía, o cheiro de uísque ainda estava impregnado em meus ressecados lábios. Meu computador falou comigo:
            ─ Mensagem para você. Pode ser no viva voz:
            ─ Manda.
            ─ Você acabou de morrer.
            Estático, foi assim que ouvi aquela notícia sobre meu falecimento. Saltei para a rua e espiei a multidão apressada, os carros velozes a se confundirem e refleti  como poderia eu estar morto se me via inserido no mundo dos vivos? Voltei para casa e apressadamente busquei um espelho, olhei atentamente e não percebi qualquer vestígios de acidente ou outro acontecimento que indicasse qualquer sinal de anormalidade. Sorri, minha imagem refletida não denotava qualquer alteração. Talvez uma brincadeira de mal gosto proposta por algum desocupado.
            ─ Oi, bonitão?
            Senti a perfume de flores e a voz sedutora da mulher que sussurrava em meu ouvido. Aquilo estava mexendo comigo.
            ─ Como entrou aqui se a porta estava trancada.
            ─ Usei a força do pensamento.
            ─ Então não tem forma nem peso?
            ─ Para um morto, você até que está falante!
            ─ Morto? Mortos não falam.
            ─ Não falam com vivos.
            ─ Quer dizer que você é...
            ─ Sou a sua próxima vida, como ainda não reencarnou, ainda sou meia morta.
            Senti o corpo colorificar, o suor frio escorreu do rosto e um tremor nas mãos evidenciava que algo estava acontecendo comigo.Quando reencarnasse seria mulher?
            ─ Tudo não passa de minha imaginação – disse eu querendo acreditar.
            ─ É o seu destino.
            ─ Não me lembro de ter morrido.
            ─ Feche os olhos, veja e enxergue com o coração. Você esta na UTI de um hospital, declarado morto.
            Foi com imenso pesar que vi aquela cena. Tudo estava consumado, a matéria seria descartada, apenas o espírito continuaria em sua viagem imortal.
             Estupefato, abri os olhos mas a mulher havia desaparecido.Naquele instante eu decidi jogar fora o meu passado. Iniciei por me desvencilhar dos traumas, deletei todos de minha vida, desconfigurei as mágoas, fiz um backup das boas lembranças, formatei meus pensamentos e compartilhei numa rede todos os meus traumas e decepções. Rabisquei a linha do tempo e nem mesmo  o esboço da saudade me surpreendeu. E mais uma vez, foi assim que morri e reencarnei.

 
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Paulo Izael
Enviado por Paulo Izael em 17/03/2014
Alterado em 25/03/2014
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