Paulo Izael
Escrevo o que sinto, mas não vivo o que escrevo.
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UMA MENTE SEM LEMBRANÇA!



Através de uma fresta no telhado, o sol beijou minha face. Despertei com a cabeça zunindo, a boca amarga e tudo mais que é pertinente à ressaca.. Era manhã alta. Olhei para o relógio, 11:00. Sabia que tinha comparecer a um velório, mas de quem? A bebedeira na noite anterior estava no bafo emanado. Não me recordava dos fatos, ocorridos na noite anterior. Minha mente estava desprovida de qualquer lembrança que explicasse a ressaca. “O velório”, num impulso, fiquei de pé. Fiz a higiene bucal, engoli qualquer coisa e rumei para o velório que ficava a dez minutos de minha casa. Certamente seria desconcertante ir a um velório e não se lembrar o motivo da morte do defunto.
- Bom dia, senhor Romero! – disse eu, cumprimentando o dono da banca de jornal.
Estranhamente não obtive resposta. Resolvi ignorar a desfeita, o homenzinho sempre estava de mau humor!
Acendi um cigarro e baforei prazerosamente. “Isso ainda me mata”, pensei, olhando para o cigarro torto. Cheguei no velório e fui direto olhar o defunto, não o reconheci, mas, ensaiei um falso choro, sempre fazia bem aos olhos dos parentes. Olhei para todos os lados e não vi nenhum conhecido. Havia outra sala ao lado que velava outro corpo. Era isso, eu havia entrado na sala errada. Ali sim, estavam meus amigos, parentes e parceiros. Todos choravam copiosamente. Cumprimentei a todos. Mais uma vez, esbarrei na rejeição do olhar. O que poderia ter feito eu de tão horrendo na noite anterior da bebedeira? Alguma palhaçada eu havia aprontado para ficar mal na fita com todos! Encostei o rosto no ouvido de minha mãe e perguntei em sussurro:
- Mamãe, o que é que eu fiz ontem, quando tomei um porre?
Simplesmente mamãe enxugou o pranto que rolava e não me deu ouvidos. Estava encafifado com a situação. Também não tencionava falar com mais ninguém, se queriam ingrisia, agora tinham. Eu decidi não bater papo com mais ninguém, o meu silêncio seria o desprezo. Eu estava nulificando-os. Dei alguns passos, acendi outro cigarro e tossi, me dirigindo, ao bonito caixão para ver o infeliz que estava partindo desta para outra vida. Quando olhei para o defunto, fui tomado por um medo tão paralisante, que, permaneci estático. Eu estava no caixão, aquele era meu velório!



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"Escrevo o que sinto, mas não vivo o que escrevo"

Paulo Izael
Enviado por Paulo Izael em 13/08/2005
Alterado em 08/11/2005
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