DESINTEGRAÇÃO EMOCIONAL
Quando o mundo tornou-se trevas,
E o manto negro da desolação
Cobriu toda a humanidade,
Pude constatar a insignificância
De minha alma que ainda teimava em existir.
Olhei para o céu que estava tingido de negro.
O enfadonho sol de cada manha
Beijou-me o rosto encardido
E mangou do semblante esquálido
Que tornava minha figura horripilante.
Aquilo não bulia comigo, eu estava indiferente.
Precedido de um estrondo, num súbito,
Fui acometido por Incompreensíveis sensações,
Que, de maneira abrupta e intermitente,
Latejava e atordoava minha confusa mente,
Denotando minha acentuada insanidade,
Incorrendo-me num devaneio desconcertante.
Abalroei a rota dos planetas e apalpei o mundo.
Ainda que pese o lapso da memória,
Às vezes me surpreendo abraçado a mim.
E se fosse possível escolher a inexistência,
Levaria comigo, minha sombra,
E certamente seríamos enamorados.
Assim funcionava a minha vida,
Desprovida de sonhos, desfeita de planos e intentos.
Sombria, nula e divinamente assustadora.
Agora, meu retorcido e esquálido corpo,
Pende, arqueja e se decompõe.
Nunca imaginei ser agraciado com a lepra.
Sinto sua voracidade consumir-me.
As manchas com suas colorações
Tingem meu corpo com tom avermelhado,
Causando a supressão da sensação térmica.
Num momento, estou na era glacial,
Noutro, meu corpo parece incendiar-se.
Peguei um objeto cortante e me desfiz de um dedo.
Embora faltasse um pedaço de mim,
Sorri ao constatar que era imune à dor.
Delirei de euforia, ao ver-me em decomposição,
Ainda encarcerado num tecido disforme.
Assim é a vida que escolhi; ínfima e letal.
E naquele flerte que bulia comigo,
Meus beijos me cegavam,
E meus olhos finalmente enxergaram
A finitude de minha frágil alma.
Notei que a presença da morte era reconfortante,
Surpreendente e totalmente providencial,
Era algo mais profundo que um encontro fortuito.
Felicitado, me concedi um terno abraço;
Eu havia alcançado a almejada infelicidade.
Naquele momento, abri as janelas da vida,
E ventilei a desintegração emocional;
Interceptando a linha do tempo,
Avistando o lento esmaecimento
Da lâmpada que clareava a existência,
E desmantelava o ilógico racional da razão.
Paulo Izael
Enviado por Paulo Izael em 10/09/2011
Alterado em 12/09/2011