Paulo Izael
Escrevo o que sinto, mas não vivo o que escrevo.
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VI O INFERNO E CHEGUEI PERTO DO CÉU



Um cigarro acesso anunciava
O desolar da esperança
Na incerteza devastadora
Que cerca todo novo amanhecer.
O amor é uma sofrível lembrança.
Na vitrola, Billie Holiday
Valorizava a caustica solidão,
Encurtando a vida apenada.
Senti uma rajada de vento frio.
O céu estava tingido de negro.
Poderia ser o apocalipse final.,
Meu derradeiro e fatídico embate.
Acendi mais um cigarro.
Minha aura estava enegrecendo.
Não compreendi a realidade,
Que tinha nuances de sonho
E me transportava ao pesadelo.
Um pergaminho tosco envelhecido,
Relatava todos os meus pecados.
A atmosfera era tétrica e aterradora.
O inferno estava em procissão.
Centenas de entidades desfiguradas
Perfaziam uma nuvem negra.
O mundo tornou-se trevas.
Em bando, demônios cruzaram o ar,
Numa intimidação macabra.
Indiferente, espiei o inferno
Se preparar para o iminente ataque.
Entornei o último gole do fel,
Pronto para o debate final,
Ou, um suicídio anunciado.
O mal se avantajou ainda mais
Com o cintilar da afiada foice
Que pairava no ar, em guarda.
De repente, num faiscar milagroso,
Milhões de anjos iluminaram o limbo.
Era uma brancura celestial
De inominável e estonteante pureza.
Uivos e gritos, a batalha fora feroz.
O enxofre e a podridão quedaram,
Batendo em retirada para o abismo.
Acendi o último cigarro e baforei.
Os anjos me cumprimentaram
Num convidativo bater de asas.
Vi o inferno e cheguei perto do céu.
Paulo Izael
Enviado por Paulo Izael em 29/06/2005
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