Que será de mim neste universo decadente,
Se meu brilho e minha aura estão ausentes?
Tragado pela insatisfação do sentimento,
O sorriso amarelo foi maculado pela dor.
O coração disforme não reparou o desamor.
Empalidecido, o corpo pendeu sem forças,
Cambaleando entre garrafas e copos vazios,
Tentando engabelar a dor e o desassossego.
Deprimente, meus dias perderam o sol,
E nas fatídicas noites, não enxergo o luar.
Noite e dia fundiram-se, conspirando
E mangando de minha infeliz trajetória.
Mergulhado no desesperante vicio,
A desgraçada engarrafada é implacável,
E segue corroendo e aniquilando meu organismo.
Desistindo de viver, perdi a noção do tempo,
Neste danoso redemoinho de ilusão,
Que atordoa e impurifica a desvalida mente,
Vez por outra, ainda me surpreendo
Chorando o amor que há muito se foi.
Agora meus dias são noites,
As flores murcharam e o sol descoloriu.
Os pesadelos são reais,
E os pássaros emudeceram.
Fui abençoado por um clarão translúcido,
Que trouxe o providencial trovão
Acompanhado do relâmpago
Resultante da descarga elétrica
Extasiado, presenciei o mundo faiscar,
Ateando fogo em meu imprestável corpo
Que ainda relutava em sobreviver.
Felizmente, as chamas foram implacáveis.
Em minha crescente insanidade,
Desejei encerrar a existência.
Sorri maravilhado ao ser atingido.
Finalmente, vi-me reduzido a cinzas.
Testemunhei a fragilidade da existência
Quando o último sopro,
Num desabafo, interrompeu o ar,
Fazendo evaporar a efêmera vida.
Aqui, neste inefável plano espiritual,
Onde nenhuma força superior,
Move ou remove a roda do tempo,
Descobri que a bola do cosmo é oca.
O ceticismo acresce em mim,
Desarticulando vestígios da lembrança
E agregando a aprazível infelicidade
Que eclode no desprazer pela existência.
Vi que inexiste o céu e o inferno,
Tampouco a pilheria da salvação
Rosnou para ser ouvida
Pelo desfigurado cosmo
Embriagados deuses políticos,
Emolduravam suas madeixas
Engabelando a calvície
E exaltando a sofrível imortalidade.
Rasurei a brancura da paz
E sacudi a constelação.
Causei um tremor medonho
Que findou em escuridão.
Às vezes em estado de êxtase,
Enojo-me do manto purificador.
Agora que transpus a barreira,
Que será de mim, se inexiste o fim?
Paulo Izael
Enviado por Paulo Izael em 22/03/2011
Alterado em 22/03/2011