A FACE DA DOR
O véu negro da noite era deprimente!
Noite cruel que me acumulava de tédio.
Interminável penumbra que castigava.
Nuances de sonhos imperfeitos,
Acrescidos de pesadelos tristonhos.
Eu necessitava depurar a alma.
Olhei, não reconheci o maldito lugar.
Meu reflexo no espelho era de um estranho,
Fatigado, expondo a face da dor.
Minha insanidade havia sobrepujado
Os resquícios da contestada razão.
Assisti a deslumbrantes delírios.
Andei sobre turbulentas águas,
Planei por todo o decadente universo;
Beijei estrelas cadentes e flertei com a lua,
Ainda findei por espancar um dragão,
Fato reclamado por um tal de Jorge.
Minha alma chorou copiosamente,
Resignada por habitar desprezível matéria.
Qual a serventia de uma alma inútil,
Se há muito, a fé não me solicitava?
Meu corpo, massa obesa descartável,
Invólucro desajeitado que pendia
Trôpego em seguidas tremulações,
Queimava sobrepujado pela degeneração.
Certamente a lepra estava se fartando.
Novamente a entediante e maldita música
Que arranhava o escasso silêncio.
Notas fúnebres desprovidas de arte,
Que aborreciam minha debilitada mente.
A desfaçatez preenchia o espaço
tornando nulo o meu mundo.
Vi acrescer o bolor mórbido da solidão
Quando meu coração soluçou magoado.
Terrível música que se repetia em balbúrdia,
Gerando ensurdecedora desarmonia.
Zunindo, ferindo, meus tímpanos.
Ensandecido, desabei em prantos.
Que lástima, no desaguar da retina
Constatei a inutilidade das lágrimas
Que respingavam todos os dissabores,
Produzindo apenas angustia e depressão.
Vi-me acompanhado de malefícios.
Acendi um cigarro, a nicotina sorriu-me;
Sorvi a desgraça enfumaçada e tossi.
Aquiesci minha obscura relação com o vício.
Entornei uma bebida intragável e passada,
O palco era da desgraça engarrafada.
Mefistofélico acorde que me paralisava.
Aquela música me tornava vólucre!
Meus olhos já não captavam imagens,
Tornaram-se meros hospedeiros de derrotas.
Interrompi o tatear das agruras do tempo.
Maldita melodia com notas descompassadas
Que me perseguia impiedosamente;
Anunciando prazerosamente a tristeza,
Premissa para inocular o fenecimento.
Não me lembro, mas foi assim que morri!
Paulo Izael
Enviado por Paulo Izael em 22/02/2010
Alterado em 06/05/2012